Planejamento de Viagem: Como criar um roteiro de aventura do zero

Do Google Maps à planilha de gastos: o passo a passo para evitar perrengues e por que ter um “menu de opções” é a melhor estratégia.

Conteúdo deste artigo:

Introdução

Muitas pessoas acham que planejar tira a liberdade da viagem. Nós pensamos exatamente o oposto: o planejamento é o que nos dá liberdade.

Quando você sabe onde vai dormir, quanto vai gastar e quais são as rotas de fuga, sobra tempo mental para curtir a paisagem e improvisar com segurança. Sem planejamento, a aventura vira perrengue, e o perrengue vira prejuízo.

Após algumas viagens, desenvolvemos um método próprio — uma verdadeira “engenharia de viagem” — que usamos para tudo. Seja um bate e volta na Pedra da Macela ou uma expedição de 10 dias pelo Nordeste.

Hoje, vamos abrir nossa “caixa preta” e mostrar como transformamos um vídeo aleatório do Instagram, por exemplo, em um roteiro executável.

Direto ao Ponto (TL;DR)

O nosso método se divide em 5 etapas lógicas:

  • Inspiração e Filtro: Da ideia ao Mapa. Calculamos a viabilidade (Distância x Custo).
  • Logística Financeira: Margens de erro de até 20% e a estratégia do estudo dos caminhos.
  • Segurança e Comunicação: Rádios UHF/VHF, Dual SIM e locais de referência.
  • Autonomia (Carro e Comida): Ferramentas de auto-resgate e alimentação para evitar problemas de saúde.
  • Menu de Opções: Listamos mais atividades do que o tempo permite para ter poder de escolha de acordo com o tempo real disponível, usando priorização.

O Passo a Passo do Planejamento

Fase 1: O Funil de Ideias

Tudo começa com a pergunta: “Para onde vamos?”.
Nossas ideias vêm de todos os lugares: um vídeo curto no TikTok, Reels ou Shorts, um documentário no YouTube ou a velha e boa indicação de amigos.

Mas nem todo lugar bonito é viável para o momento. Assim que vemos um destino legal, marcamos na lista “Quero Ir” do Google Maps.

Captura de Tela do Google Maps, com marcadores de locais visitados e locais com "Quero Ir".
Meus Locais Salvos no Google Maps

Lá ele fica “marinando” até passar no nosso filtro de viabilidade:

  • Distância vs. Tempo:
    • Perto: Bate e volta no mesmo dia (Ex: Cunha/SP).
    • Média: Obriga pernoite (Ex: PETAR).
    • Longa: Exige pernoites na estrada e/ou no destino (Ex: Canastra).
  • Custo x Benefício: Vale a pena gastar tanque cheio e pedágio só para ver uma cachoeira? Geralmente não. Procuramos sempre combinar atrativos para diluir o custo da viagem.

Fase 2: A Engenharia da Viagem

Quando o destino passa no filtro, vamos para o computador cruzar os dados.

Essa fase começa pelo Cálculo do Combustível ou das Passagens Aéreas.

Viajando de carro

Na maioria das vezes, se viável, preferimos viajar no nosso carro. Isso permite que possamos levar toda nossa bagagem e equipamentos e, além disso, ainda podemos trazer coisas conosco de volta sem se preocupar com excessos de peso ou compra de bagagem extra. Abaixo segue um exemplo de como calculamos o valor médio de combustível para a viagem.

Tabela Exemplo de Cálculo de Combustível
Exemplos de cálculo de gasto com combustível estimado para destinos desejados

Obviamente, o gasto de combustível não é o único que existe quando se viaja de carro, no entanto, ele é o gasto principal nessa modalidade. Gastos como revisão, manutenção, equipamentos adicionais, etc. são recorrentes e devem ser feitos antes de qualquer planejamento de viagem. Além disso, esses gastos são diluídos no dia a dia do uso do veículo.

Viajando de Avião

Caso não seja viável ir de carro, então, fazemos uma breve busca de passagens aéreas para noção do preço médio, para isso, geralmente utilizamos o próprio Google Flights ou verificamos diretamente com as empresas aéreas, como no site da GOL Linhas Aéreas ou da LATAM Brasil. Aqui a ideia não é já selecionar o melhor local para comprar a passagem e sim conhecer os valores para saber se a viagem é viável ou não. Se for necessário, faça uma cotação também de aluguel de veículos no destino. Se locomover com liberdade é essencial.

Hospedagem

Independente do método de locomoção, também realizamos uma breve pesquisa de hospedagens com Airbnb e Booking para obter valores médios da região em análise. O objetivo aqui também não é escolher uma hospedagem, e sim, ter uma noção do valor médio para uma tomada de decisão inicial.

Captura de Tela do site Airbnb, mostrando os valores de hospedagens na região da Serra da Canastra em dez/2025.
Hospedagens na Região da Serra da Canastra, via Airbnb (valores referentes à dez/2025)
Confirmação de Viabilidade

De forma geral, a análise do gasto com combustível/passagens e com hospedagens já é o suficiente para uma tomada de decisão. Essa decisão geralmente se dá pela resposta das seguintes perguntas: a viagem é possível pra quando? Qual a nossa disponibilidade de tempo? E financeira?

Quando batemos o martelo sobre a viabilidade, em quantos dias e em qual data, então iniciamos de fato o planejamento da viagem, iniciando pelas cotações específicas, como: escolha de hospedagens viáveis, restaurantes no destino e durante a viagem e valores de alimentação médio, se teremos gastos adicionais com passeios, ingressos, lembrancinhas, presentes, mercado, etc.

Exemplo de Estimativa Média Total de Gastos no planejamento da viagem
Exemplos de cálculo de valor estimado total para a viagem de carro para a Serra da Canastra
Observações Financeiras
  • Não trabalhamos com valores exatos, pois a estrada é imprevisível. Nossas margens de segurança geralmente ficam entre 10% e 20%. Isso acontece porque, apesar de calcularmos a média de consumo de combustível ou o valor estimado de refeições, sempre irá haver uma discrepância no mundo real.
  • Observe sempre a possibilidade de usar pontos/milhas e/ou cupons de descontos na hora de comprar passagens aéreas, hospedagens e aluguel de veículos.

Dica: Levamos sempre uma quantia de dinheiro em espécie. Em lugares remotos, o sinal da maquininha ou outro meio de pagamento eletrônico pode não existir.

A Estratégia do Caminho
  • No Carro Próprio: Escolhemos rotas com pistas melhores ou duplicadas, mesmo que sejam mais longas. O psicológico conta muito, por isso se prepare mentalmente para o cansaço, trânsito, e quaisquer imprevistos no caminho.
    • A volta é sempre a pior parte: cansaço acumulado e fim das férias, por isso, pense e se prepare em dobro para o caminho de volta.
  • No Carro Alugado (Exemplo Nordeste): Em nossa viagem de Maceió a Natal alugamos um carro para nos locomover por lá. No momento do planejamento optamos por devolver o carro em Natal e voltar de avião de lá, em vez de dirigir tudo de volta para Maceió. Pagamos um pouco mais na taxa de devolução? Sim. Mas economizamos a viagem de retorno ao ponto inicial, combustível e, principalmente, energia mental. Foi um acerto enorme.

Leia mais sobre a nossa viagem ao litoral nordestino, com valores: Guia Definitivo: 10 Dias no Litoral Nordestino (Alagoas ao Rio Grande do Norte)

Fase 3: Segurança e Navegação Offline

Esse é o diferencial técnico. Não confiamos apenas no Waze ou Google Maps. Muito menos no sinal de rede celular (3G, 4G ou 5G).

Captura da Tela do Google Earth durante o planejamento da viagem para a Serra da Canastra
Planejamento da rota e pontos a serem visitados durante à viagem para a Serra da Canastra (Google Earth)
  • Mapas Próprios: Criamos tracklogs no Google Earth e enviamos aos Smartphones em aplicativos de mapas offline, como o Organic Maps. Se o sinal de dados sumir, sabemos onde estamos.
  • Comunicação de Emergência:
    • Celular: Usamos chips de duas operadoras diferentes. Se uma falhar, a outra pode salvar.
    • Rádio: Como sou radioamador licenciado (Classe C), levo sempre um rádio HT (UHF/VHF). Em caso de emergência real sem sinal de celular, posso buscar frequências de repetidoras ou canais de chamada (como 146.520 MHz) para pedir socorro.
  • Saúde: Não pesquisamos exatamente sobre atendimento médico, mas sempre temos em mente qual é a cidade grande mais próxima (polo regional) que teria estrutura para um atendimento grave.
Captura de Tela do Planejamento de Rota na viagem para a Serra da Canastra, no aplicativo Organic Maps.
Rota no App Organic Maps
Radio HT UHF/VHF
Rádio HT UHF/VHF

Fase 4: Autonomia

Não gostamos de depender da sorte.

Alimentação: Cardápio + Coringas

Planejamos o que comer, mas levamos itens “coringa” (macarrão, atum, snacks).

  • Cenário Real: Furou o pneu na estrada e perdemos o horário do almoço? Temos comida no carro para preparar na hora com nossos equipamentos de camping.
  • Segurança Alimentar: Se o restaurante local parecer duvidoso, preferimos cozinhar nossa própria comida para evitar uma indigestão que estragaria a viagem.
O Carro: Uma Quase-Oficina Ambulante

Além do estepe, nosso porta-malas tem um kit de auto-resgate sério:

  • Cinta de reboque e anilhas.
  • Auxiliar de partida portátil e cabo de chupeta.
  • Calibrador de pneus e medidor de pressão.
  • Kit de ferramentas completo.
  • Peças Comuns Extras: Lâmpadas, Óleo de Motor, Limpadores, etc.
  • Cama: Construímos uma cama desmontável dentro do carro. Se for necessário dormir na estrada ou num camping sem montar barraca, estamos prontos.

Fase 5: A Estratégia do “Menu de Opções”

Aqui está parte da nossa filosofia: Nós criamos um cardápio de atividades maior do que o tempo permite.

Isso não é falta de foco, é estratégia. Ter várias opções mapeadas nos permite escolher o que fazer no dia, baseados no cansaço ou imprevistos.

Captura de Tela do OneNote, que contém uma tabela do Roteiro planejado para a Viagem pelo Litoral Nordestino.
Roteiro Planejado para a Viagem pelo Litoral Nordestino
  • O Caso do Nordeste (Priorização):
    Pararíamos na Praia de Antunes, saindo de Maragogi, e depois almoçaríamos no Restaurante Calamares, mas o dia ficou curto. Como tínhamos priorizado um passeio nas piscinas naturais e o Caminho de Moisés em Maragogi e preferíamos visitar Forte Orange na Ilha de Itamaracá/PE, acabamos deixando a Praia de Antunes e o Restaurante de fora e seguimos viagem direto pro Forte, fazendo um lanche por lá.
  • O Caso da Serra da Canastra (Adaptação):
    Em uma expedição em comboio, o outro carro teve problemas. O receio de continuar do outro motorista nos fez abortar metade do roteiro. Como tínhamos o domínio total das rotas e custos, foi fácil recalcular e voltar para casa mais cedo, sem transformar a mudança de planos em um desastre.

E Agora? Comece seu Planejamento!

O papel aceita tudo, a realidade não. O segredo é ter a base sólida para poder improvisar.

  1. Crie sua lista “Quero Ir”: Viu um vídeo de um destino legal no TikTok ou no Instagram? Salve no Google Maps agora.
  2. Prepare o Financeiro: Analise as categorias de maior gasto e pense nas margens de erro do orçamento. Faça a sua tomada de decisão.
  3. Prepare a Logística: Analise sua disponibilidade e pense nos caminhos a serem trafegados. Trace rotas seguras e pense também nos casos de emergência.
  4. Explore Nossos Guias na Prática:
  5. Monte seu roteiro: Envie os dados consolidados para o seu smartphone, onde você consiga acessar sem Internet.
  6. E boa viagem!

Por fim…

Planejar não é sobre controlar cada minuto com rigidez militar. É sobre garantir que, se o pneu furar, se chover ou se o restaurante estiver fechado, você tem a ferramenta, a comida e o plano B prontos.

Se sobrar atração no roteiro, ótimo: você já tem motivo para voltar.


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